Página principal

Lançamento de livros

 

 “Manguezal do Rio Passa Vaca - Uma Proposta de Ecodesenvolvimento, Ecoturismo e Educação Ambiental em Salvador,Bahia” –

Carlos Caetano

 

Os manguezais da costa norte brasileira

Marcus E.B. Fernandes

PREFÁCIO

 

A costa brasileira possui uma das maiores áreas contínuas de manguezal do mundo, em torno de 1,38 milhões de hectares, cuja vegetação apresenta sua maior exuberância nas latitudes próximas à linha do Equador, no litoral amazônico, entre a foz do rio Oiapoque (extremo norte do Estado do Amapá) e a baía de São Marcos (Estado do Maranhão), em uma região conhecida, singularmente, como costa norte.

 

Este ecossistema produtivo e dinâmico, que forma a paisagem ao longo da costa norte, possui um equilíbrio harmônico entre as águas doces e salobras na zona intertidal, cuja ação direta tem moldado um cenário que é fruto de uma história evolutiva e biogeográfica ímpar, onde o início parece remontar há 65 milhões de anos durante o período Cenozóico. Como um dos principais ecossistemas costeiros da Amazônia brasileira, os manguezais com suas plantas e animais oriundos da terra e do mar, também tomaram importante papel na história evolutiva das comunidades humanas litorâneas dessa região, tornando-se fonte indispensável de recursos que têm promovido o estabelecimento e a sobrevivência dessas comunidades, até os dias de hoje.

 

Reconhecendo a relevância da biodiversidade característica dos manguezais, bem como dos processos adaptativos que promoveram o estabelecimento desses organismos nessa zona de transição, os estudos científicos, principalmente durante a última década, foram intensificados gerando a formação de novos grupos de trabalho e a captação de recursos, que ora viabilizam as pesquisas ao longo do litoral amazônico. Conseqüentemente, várias linhas de abordagem científica sobre esse ecossistema tomaram corpo, compreendendo não apenas as questões bio-ecológicas e evolutivas, mas também as de caráter sócio-econômicas. Considerando-se o crescente volume de informação até então gerado sobre os manguezais da costa norte brasileira, surgiu a necessidade de se reunir este conhecimento em uma obra onde cada capítulo representasse uma revisão do tema enfocado. Em sendo assim, é quase inevitável apresentar um diagnóstico sobre cada tema aqui abordado, o que tende a direcionar as pesquisas futuras, no sentido de preencher as lacunas existentes, além de promover a melhoria na distribuição dos recursos disponíveis para a pesquisa do ecossistema manguezal ao longo da costa norte brasileira.

 

Este volume contém temas diversificados cuja abrangência abarca informações geradas por sensoriamento remoto, passando por aspectos da ecologia atual e histórica dos manguezais, até levantamentos da fauna característica deste ecossistema.

 

O primeiro capítulo analisa uma série temporal de imagens de satélite e fotografias aéreas  com o objetivo de identificar e quantificar áreas com perdas e/ou ganhos de cobertura vegetal nos manguezais e nas planícies de lama elevadas, com vistas à recente evolução da vegetação costeira em uma escala regional. Na seqüência, o segundo capítulo revisa aspectos da evolução e da biogeografia histórica dos bosques de mangue, enfatizando pelo menos três episódios climáticos significativos desde o Pleistoceno-Holoceno, Holoceno Inferior (10.000-7.000 anos A.P.) até o período atual.

 

O terceiro capítulo é dedicado aos fungos macroscópicos da classe Basidiomycetes, de ocorrência em substratos vegetais de manguezais ao longo da costa norte brasileira, apresentando também uma lista dos táxons de interesse econômico. O quarto artigo apresenta os resultados já obtidos sobre a produtividade dos manguezais ao longo da costa norte, enfatizando a produção de serapilheira e sua provável relação com os fatores abióticos locais.

 

Os três últimos capítulos deste volume referem-se à fauna dos manguezais. A primeira contribuição apresenta um levantamento sobre a malacofauna dos Estados do Amapá, Pará e Maranhão, juntamente com uma revisão bibliográfica sobre a biologia e a sistemática deste grupo bastante representativo nas áreas de mangue. Em seguida, é apresentada uma abordagem ecológica da macroendofauna bêntica de sedimento móvel ao longo de diferentes gradientes topográficos em três principais tipos de bosques de mangue, ilustrando a estrutura e a natureza das interações animal-ambiente desta comunidade. O último capítulo resume as informações disponíveis sobre a ictiofauna estuarina, apresentando uma visão do estado atual do conhecimento deste grupo associado aos manguezais da costa norte brasileira.

 

 

M.E.B. Fernandes